Ikigai

Ikigai

Olá querid@s pintor@s,

Esta foi a Capa que desenhei o ano passado para o Concurso do Pingo Doce o ano passado.

 

Porque é que nos levantamos da cama todos os dias?

Vivemos numa sociedade que dá imenso valor a escolher uma vida plena, equilibrada, em busca da felicidade; muitas vezes esse equilíbrio passa pelas escolhas que nós fazemos, nas diferentes áreas da nossa vida.

生き甲斐 em japonês, significa “razão de viver”.

É um estilo de vida que traz harmonia, longevidade e satisfação plena nas diferentes áreas da nossa vida; a percepção sobre o que é a nossa razão de viver, deriva do equilíbrio entre o que nós somos e o que nós fazemos, e aí encontramos os moldes da nossa identidade.

Está também ligada, fruto da industrialização da sociedade, ao sucesso profissional, mas poucas pessoas serão felizes sem terem realizado tanto o lado pessoal como o profissional.

Quando quis começar a ilustrar, esse desejo estava intimamente ligado ao meu percurso escolar, o qual sempre senti ter ficado incompleto, já que estudei para ser Professora de Artes, mas o meu percurso profissional inclinou-se para a área das Finanças. Por isso, ilustrar foi sempre como que “atar uma ponta solta” do meu passado, completar uma parte de mim que ficou sempre para trás, em prol da minha escolha por estabilidade financeira.

Para mim, praticar a filosofia Ikigai é compreender a relação entre todos estes aspetos, todas as diferentes Margaridas que tenho que ser no meu dia a dia, não sendo definida apenas pelo meu trabalho, e sim pelo equilíbrio entre todas as facetas da vida.

Estas facetas podem ser diferentes para cada um de nós, como por exemplo amares os teus entes queridos, conheceres outras culturas, dedicares-te a uma causa solidária, seres um bom profissional que contribui para a sociedade, ajudares os outros na busca do sentido da vida, ou criar novas ideias para melhorar o mundo e cuidar do planeta.

Idealmente falando, tudo isto é muito bonito, mas como é que se pratica o Ikigai quando as nossas realidades estão cheias de armadilhas de tempo e agendas sociais (principalmente quando tens filhos) super preenchidas?

Este conceito foi observado na aldeia que possui o recorde do Guiness para a população mais velha do mundo - Ogimi, em Okinawa. Ali, as pessoas vivem muito tempo felizes porque seguem a sua razão de viver, e ela orienta todas as suas ações e escolhas.

Eu, falo por mim, neste momento estou a gozar a licença de parentalidade, mas quando regressar ao trabalho, vou começar novamente a viver de turno em turno. O primeiro turno é o do self care, o único momento que tenho para mim, antes de toda a gente acordar (se o bebé Diogo não acordar primeiro!), com um bocadinho de Yoga, Meditação, e algum exercício criativo, nem que seja por 10 minutos.  Depois, acordar as crias, tomar pequeno almoço sentados quando, ou se, possível, deixá-los nas escolinhas e seguir para o trabalho.

O segundo turno, que me ocupa a maior parte do dia, é o do Banco, até onde habitualmente fico até às 17h30, se não houver nenhum incêndio para apagar que me faça ficar até mais tarde.

E o terceiro turno, recolher as crianças, levar o mais velho ao futebol, jantares, banhos e afins.

Depois só me resta cair na cama e suspirar finalmente!

Esta lufa-lufa em que andamos diariamente é desgastante, e se pensarmos bem no assunto, é só um amontoado de tarefas que vamos riscando com satisfação enquanto as completamos, e no final do dia “kaput”.

E então, o que fazer com tudo isto, quando ouço @s meus querid@s pintor@s a queixarem-se que gostariam de fazer mais arte, mas não têm tempo, ou que o workshop que fizeram comigo lhes devolveu um pouco da sanidade mental que tanto precisavam?

Temos que parar de andar em piloto automático.

Parar para cheirar o ar da Primavera, para ouvir a chuva a cair, para ouvir só o silêncio (algo que faço com muita frequência porque muita mistura de sons é uma sobrecarga para os meus sentidos e fico assoberbada), ouvir os pássaros a cantar, sentar no sofá e ver um episódio daquela série que andamos para ver há que tempos. Ou, quiçá, perder a cabeça e ver dois ou três!

É preciso ESCOLHER parar. Escolher tirar tempo para nós, para descobrir o que nos realiza e traz alegria, porque para mim o “não ter tempo” é só um mito. Nós é que escolhemos onde é que gastamos o nosso tempo, e ele é o nosso bem mais precioso. Deixa lá, as folhas não se vão estragar por ficarem por varrer, agarra lá num pincel e vai praticar aqueles exercícios que fizemos no workshop.

 

Espero encontrar-vos bem, hoje está um lindo dia de sol por isso vão e aproveitem que eu vou fazer o mesmo.

Beijinhos,

Margarette

Margarida PiresComentário